Há muitos meses tive o prazer de ler este texto abaixo, mas infelizmente não me recordo do autor. Tentei ser o mais fiel possível ao texto embora tenha adicionado diversos comentários...
O escrito Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987) sintetizou alguns problemas da divisão do poder em um conto
intitulado Governar. Nele, um grupo
de meninos decide brincar de governo e elegem um deles, Martim, como
presidente, e pedem-lhe que governe “para o bem de todos”. No entanto,
imediatamente o presidente decide usar o cargo para benefício próprio e começa
a dar ordens: “Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu
assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão minha segurança. Junuário será meu
ministro da Fazenda e pagará o meu lanche” Perguntado de onde esse dinheiro
seria retirado, Martim não hesita em criar impostos: “Cada um de vocês
contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do governo”, diz. O grupo
reclama, dizendo que o presidente deve ser um servidor do povo, mas obtém como
resposta que o presidente não é igual aos presididos. “Se exigirem coisas de
mim”, diz o pequeno presidente, “serão multados e perderão o direito de
participar da minha comitiva nas festas”.
Drummond não deixa dúvidas sobre o
futuro do governo: o presidente é deposto, a república dissolvida.
Quando a vontade do povo vai contra os
princípios das leis e constituição, deve-se respeitar essas vontades em nome da
democracia ou deve-se ignorar essa vontade, em nome da mesma democracia?
O que não pode é ter os corajosos que
atiram pedras quando escondidos na multidão. Expor sua vontade, seu pensamento
é um direito. Basta se apresentar e informar aos demais sobre sua opinião e
posição sobre determinado assunto. O medo de não fazer parte do que a maioria
pensa é um comportamento submisso. Ser corajoso na multidão é muito fácil, até
porque não estará na linha de frente para receber a represália de seu oponente.
É isso o que acontece em muitas lojas maçônicas, IIr.: que incitam, que
exploram a boa vontade de poucos para que depois, escondidos sob outros
aventais (dando tudo certo), levem a glória. Mas se ocorrer ao contrário, simplesmente abandonam os IIr.: e saem
de perto sem que sejam notados. São pessoas de caráter duvidoso, que mudam de
posição conforme o sabor dos ventos.
Fico imaginando verdadeiros líderes maçons
lutando pela libertação dos escravos, pela independência de seus países, por
uma constituição justa e contando com esses pseudos IIr.: . Seria desastroso.
Lembro ainda aos IIr.: que “maioria”
é apenas o reflexo do consenso sobre determinado assunto, mas que de maneira
alguma, a decisão da maioria representa
a verdade absoluta.
Galileu seria morto por discordar da grande maioria. E nem
preciso dizer quem dizia a verdade sobre uma tal Terra redonda. Uma das críticas
a democracia tem como alvo o que é identificado como “tirania da maioria” que
pode fazer da democracia um regime particularmente opressor para quem,
exercendo seu direito de não concordar, não compartilhe as preferências da
maior parte das pessoas.
Já presenciei IIr.: que
omitiram leituras de atas na presença de delegados a pedido do V.: M.:, o Ir.: Tesoureiro que informou sobre
o “pedido” do V.: M.: de anistia de dívida para seu afilhado, enfim, dizer que
nos espelhamos na civilização egípcia que tanto se esforçou para contar e
registrar sua história em hieróglifos... não é exatamente o que parece fazermos. Infelizmente algumas Augustas e Respeitáveis Lojas Simbólicas parecem não ter assimilado esta cultura. Suas histórias constantemente se “perdem”, se “extraviam” ou simplesmente são abafadas. Isso é característica de um governo democrático?
A extensão das ideias que estão
relacionadas a palavra, e o prestígio que elas tem dentro da teoria política e
das relações internacionais também não ajudam a formar uma ideia clara e
precisa do que seja democracia. Esse prestígio, que pode ser verificado por sua
boa circulação nos meios políticos, levou vários governos autoritários do
século XX a se intitularem “democracia”, aproveitando-se das conotações
positivas que a palavra tem. Desse modo, um observador sem noção histórica e
filosófica do que é a democracia poderia ficar seriamente confuso ao verificar
que regimes autocráticos como de Mobutu Sese Seko (1930-1997), no Congo e mesmo
Muammar Kadhafi (1942-2011), na Líbia, se intitulavam “democracias”, mesmo sem cumprir nenhum de seus requisitos básicos.
Uma coisa é certa, quando há política envolvida, a benesses do poder favorece justamente aqueles que mais ferem a nossa constituição.