segunda-feira, 15 de abril de 2013

Benesses do poder


Há muitos meses tive o prazer de ler este texto abaixo, mas infelizmente não me recordo do autor. Tentei ser o mais fiel possível ao texto embora tenha adicionado diversos comentários...

O escrito Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) sintetizou alguns problemas da divisão do poder em um conto intitulado Governar. Nele, um grupo de meninos decide brincar de governo e elegem um deles, Martim, como presidente, e pedem-lhe que governe “para o bem de todos”. No entanto, imediatamente o presidente decide usar o cargo para benefício próprio e começa a dar ordens: “Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão minha segurança. Junuário será meu ministro da Fazenda e pagará o meu lanche” Perguntado de onde esse dinheiro seria retirado, Martim não hesita em criar impostos: “Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do governo”, diz. O grupo reclama, dizendo que o presidente deve ser um servidor do povo, mas obtém como resposta que o presidente não é igual aos presididos. “Se exigirem coisas de mim”, diz o pequeno presidente, “serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas”.
Drummond não deixa dúvidas sobre o futuro do governo: o presidente é deposto, a república dissolvida.

Quando a vontade do povo vai contra os princípios das leis e constituição, deve-se respeitar essas vontades em nome da democracia ou deve-se ignorar essa vontade, em nome da mesma democracia?

O que não pode é ter os corajosos que atiram pedras quando escondidos na multidão. Expor sua vontade, seu pensamento é um direito. Basta se apresentar e informar aos demais sobre sua opinião e posição sobre determinado assunto. O medo de não fazer parte do que a maioria pensa é um comportamento submisso. Ser corajoso na multidão é muito fácil, até porque não estará na linha de frente para receber a represália de seu oponente. 

É isso o que acontece em muitas lojas maçônicas, IIr.: que incitam, que exploram a boa vontade de poucos para que depois, escondidos sob outros aventais (dando tudo certo),  levem a glória. Mas se ocorrer ao contrário, simplesmente abandonam os IIr.: e saem de perto sem que sejam notados. São pessoas de caráter duvidoso, que mudam de posição conforme o sabor dos ventos.

Fico imaginando verdadeiros líderes maçons lutando pela libertação dos escravos, pela independência de seus países, por uma constituição justa e contando com esses pseudos IIr.: . Seria desastroso.

Lembro ainda aos IIr.: que “maioria” é apenas o reflexo do consenso sobre determinado assunto, mas que de maneira alguma, a decisão da maioria  representa a verdade absoluta. 

Galileu seria morto por discordar da grande maioria. E nem preciso dizer quem dizia a verdade sobre uma tal Terra redonda. Uma das críticas a democracia tem como alvo o que é identificado como “tirania da maioria” que pode fazer da democracia um regime particularmente opressor para quem, exercendo seu direito de não concordar, não compartilhe as preferências da maior parte das pessoas.

Já presenciei IIr.: que omitiram leituras de atas na presença de delegados a pedido do V.: M.:, o Ir.: Tesoureiro que informou sobre o “pedido” do V.: M.: de anistia de dívida para seu afilhado, enfim, dizer que nos espelhamos na civilização egípcia que tanto se esforçou para contar e registrar sua história em hieróglifos... não é exatamente o que parece fazermos.  Infelizmente algumas Augustas e Respeitáveis Lojas Simbólicas parecem não ter assimilado esta cultura. Suas histórias constantemente se “perdem”, se “extraviam” ou simplesmente são abafadas. Isso é característica de um governo democrático?

A extensão das ideias que estão relacionadas a palavra, e o prestígio que elas tem dentro da teoria política e das relações internacionais também não ajudam a formar uma ideia clara e precisa do que seja democracia. Esse prestígio, que pode ser verificado por sua boa circulação nos meios políticos, levou vários governos autoritários do século XX a se intitularem “democracia”, aproveitando-se das conotações positivas que a palavra tem. Desse modo, um observador sem noção histórica e filosófica do que é a democracia poderia ficar seriamente confuso ao verificar que regimes autocráticos como de Mobutu Sese Seko (1930-1997), no Congo e mesmo Muammar Kadhafi (1942-2011), na Líbia, se intitulavam “democracias”, mesmo sem  cumprir nenhum de seus requisitos básicos.

Uma coisa é certa, quando há política envolvida, a benesses do poder favorece justamente aqueles que mais ferem a nossa constituição.

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